sexta-feira, 19/abril/2024
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Palanque na estrada

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Inoperante como o seu antecessor – o antigo DNER -, o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) ofereceu um exemplo do descaso do Governo do PT para com a malha viária do País, nesta semana, ao dar uma resposta incisiva e cretina a um protesto de caminhoneiros e empresários do setor de transportes contra o estado extremamente precário da BR-262, que corta parte do Sul brasileiro: não há previsão de data para liberação de recursos para recuperar estradas.

O caso dessa BR é emblemático da situação em que se encontra a maioria das rodovias federais brasileiras, bem como da omissão deliberada do Governo. Todos os dias, a TV, os jornais, as rádios e os sites noticiam acidentes, muitos dos quais com vítimas fatais, ocasionados pelo péssimo estado dessas estradas. Na maioria das situações, o asfalto é apenas uma lembrança, a erosão já “comeu” parte do leito, as pontes estão prestes a desabar… E não há previsão para a liberação de recursos para obras.

Na verdade, em se tratando de Governo Federal, jamais houve previsão e/ou planejamento sério sobre investimentos na infra-estrutura viária. Há três anos, sob o comando do PT, o Ministério dos Transportes se transformou num penduricalho que serve muito mais aos caprichos politiqueiros do seu titular de plantão do que diretamente aos interesses coletivos. Em todos os cantos do Brasil.

Os grandes empresários do setor de transportes que optam por investir em Mato Grosso, por exemplo, não o fazem por acaso. Levam em consideração o fato de o Estado configurar uma potência, com um papel muito importante no processo de desenvolvimento do País, notadamente no que se refere à produção de alimentos, à preservação ambiental e à própria questão logística. Contudo, o risco de um apagão logístico, por vezes, inviabiliza esses investimentos. Em verdade, esse apagão já existe no País, e em Mato Grosso ele ainda não é uma realidade nua e crua porque o Governo do Estado, justiça se faça, tem dispensado atenção especial à questão.

Com efeito, na condição de empresário de sucesso, Blairo Maggi se notabilizou por investir na integração dos diversos modais de transporte, buscando ganhos de qualidade e produtividade para o setor. Hoje, como governador, ele também ganha notoriedade por insistir em priorizar o setor (um bom exemplo são os mais de 1,5 mil km de asfalto executados ao longo dos seus três anos de gestão), pois sabe que não adianta Mato Grosso ser apenas recordista em produtividade, porém sem investimento em logística. E o setor de transporte antecede praticamente a todas as outras atividades fundamentais para a economia regional.

Infelizmente, o mesmo não se pode dizer do Governo Federal. Além da malha viária sucateada, de Norte a Sul e de Leste a Oeste, o Governo Lula herdou do Governo FHC os inúmeros palanques eleitoreiros montados ao longo de algumas das principais rodovias brasileiras. Um desses palanques é enorme e estratégico e desperta em nós, mato-grossenses, um interesse todo especial: a BR-163, também conhecida como Cuiabá-Santarém.

No decorrer dos oito anos da Era FHC, tivemos que aturar o próprio presidente de plantão, alguns dos seus ministros (Serra, por exemplo, que fazia campanha para a sucessão) e tucanos mato-grossenses prometerem, a cada ano, a conclusão da pavimentação asfáltica dessa importante rodovia até o vizinho Estado do Pará. Até expedição do tipo “estradeiro” foi realizada entre os dois Estados, numa campanha que tinha muito mais de política eleitoral do que administrativa. O resultado está aí, à vista de todos: a estrada, como um dos exemplos do descaso no setor de infra-estrutura viária.

Curioso é que, terminado o Governo FHC e com o advento da gestão petista, os mesmos tucanos (muitos dos quais hoje lutam desesperadamente para voltar ao Poder em Mato Grosso) que durante quase uma década mentiram descaradamente, sempre com o intuito de auferir lucros eleitoreiros, voltaram à mesma BR-163 (no começo deste 2005) para protestar (!) contra o descaso do Governo Lula – e, obviamente, contra o abandono da rodovia. Não há como negar que se tratou de um insulto à inteligência dos mato-grossenses. Uma safadeza sem tamanho.

Dias atrás, o presidente Lula, num “pool” de emissoras de rádio, nem corou quando disse, entre outras bobagens, que os compromissos que assumiu de desenvolver projetos estratégicos para a Região Amazônica são “prioridades” de seu Governo. Citou, como exemplo, o asfaltamento da BR-163, Santarém (PA) e Cuiabá. E sobre essa rodovia, fez média: disse ser “uma estrada extremamente sensível’, por questões ambientais, mas necessária para a região Centro-Norte do Brasil, a artéria altamente importante para a região e nós queremos concluí-la”. Pior é que tem gente que ainda acredita nesse tipo de lorota.

Pode ter certeza, caro leitor, que esse mesmo expediente será utilizado à exaustão em 2006, quando os palanques serão ampliados e a BR-163, mais uma vez, será utilizada para escoar as mentiras, as conversas fiadas de políticos. Não se contando a BR-158, no Vale do Araguaia, cuja pavimentação, supostamente assegurada numa “parceria” entre a bancada federal e o Governo do Estado, já é motivo de campanha eleitoral nessa aberração que é a propaganda eleitoral gratuita (com inserções em horário nobre) no rádio e na TV.

* Antonio de Souza, jornalista, é consultor de Comunicação da Oficina do Texto – Marketing & Assessoria de Imprensa, em Cuiabá.

[email protected]

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