quarta-feira, 24/abril/2024
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Justiça que incomoda

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Foi só anunciar a intenção de mandar abrir inquérito para apurar um suposto envolvimento de tucanos de alta plumagem e de grupos empresariais reconhecidamente ligados ao PSDB com o esquema criminoso do ex-comendador João Arcanjo Ribeiro, e o juiz federal Julier Sebastião da Silva passou a ser alvo de constantes ataques. O Senado e a OAB-MT, pelo que se lê nos jornais e nos sites, viraram púlpitos para políticos e advogados revoltados mirarem no magistrado, acusando-o, sobretudo, de abusos de poder e outras coisas menos nobres.

Quem sou eu para defender aqui o titular da 1ª Vara Federal de Cuiabá? Contudo, acredito que o juiz Julier Sebastião e o procurador da República Pedro Taques (hoje atuando no Ministério Público Federal em São Paulo) fizeram muitos inimigos por aqui pelo simples fato de terem, com toda a coragem que tem faltado a muitos integrantes do Poder Judiciário e da Segurança Pública, desbaratado o império do crime que era comandado pelo outrora temido “comendador” João Arcanjo Ribeiro. Além de terem chamado a atenção de certos empresários, autoridades e agentes públicos para o fato de que a Lei existe e foi feita para ser cumprida.

O juiz Julier Sebastião é responsável pelos processos que apuram os crimes de Arcanjo. Recentemente, o procurador Pedro Taques deixou muita gente cismada ao afirmar, em entrevista num programa de TV, que, para a “Arca de Noé” (a operação conjunta com a Polícia Federal que desbaratou a quadrilha do ex-bicheiro), por assim dizer, naufragar de vez, é necessário que a Justiça conclua as investigações que, inevitavelmente, levarão ao braço político do crime organizado em Mato Grosso. Supõe-se que, abrindo-se mais essa caixa preta do crime organizado, sobrará para certos políticos, muitos dos quais vislumbram nas eleições de 2006 uma ótima chance de ganhar (ou assegurar) a imunidade. E, obviamente, de se livrar da cadeia.

É só alguém falar em ligações políticas com o caso Arca de Noé e surgem, no cenário, pessoas e grupos manifestando a sua mais solene revolta contra as ações da Justiça, principalmente a Federal, que tem tido a coragem suficiente para combater o crime organizado e empreender uma caça sem trégua aos políticos safados.

A simples menção do nome do ex-comendador, no atual estágio de pré-campanha eleitoral, tem sido motivo para determinados líderes políticos viverem momentos de tensão. A extradição do ex-capo do crime organizado, pelo que se nota, é ponto pacífico. E tudo isso é colocado na conta de Julier Sebastião e de Pedro Taques. Suspeita-se, até, que para grande parte dos políticos que adquiriram projeção (e fortuna) graças às maracutaias feitas em conluio com o ex-bicheiro seria bem melhor se ele ficasse para sempre no Uruguai, onde está preso e aguarda o momento de vir para Mato Grosso, onde passará a viver às custas do contribuinte.

Particularmente, acho que essas duas autoridades têm o reconhecimento de parcela considerável da sociedade mato-grossense pelo trabalho corajoso que empreenderam até agora. Ambas foram (e são) corajosas e corretas o suficiente para lutarem contra a impunidade, que, ao longo dos anos, aqui em Mato Grosso, tem sido a maior responsável pelo elevado índice de violência. E pelas falcatruas que causaram rombos consideráveis nos cofres públicos estaduais.

Atitudes corretas têm que aplaudidas. E o juiz Julier Sebastião, ao lado do procurador Pedro Taques, sem dúvida, representa um dos lados bons da Justiça, aquele que segue a máxima de que a Justiça é para todos.

OMBUDSMAN – O prefeito Wilson Santos (PSDB) anuncia uma mini-reforma administrativa para valer a partir de 2006. E entre as mudanças cogitadas está a criação da figura do ombudsman, uma espécie de ouvidor com cargo de secretário. Ombudsman é uma palavra sueca que significa representante do cidadão. Nos países escandinavos, designa o ouvidor-geral, função pública criada para canalizar problemas e reclamações da população. Na imprensa, o termo é utilizado para designar o representante dos leitores dentro de um jornal. Caso Wilson Santos dê a independência que se fará necessária para o ouvidor desempenhar suas funções, ele (prefeito) certamente vai ter noites de insônias diante de tantas reclamações sobre sua administração.

Antonio de Souza, jornalista, é consultor de Comunicação da Oficina do Texto – Marketing e Assessoria de Imprensa, em Cuiabá.

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