quarta-feira, 24/abril/2024
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A força da reputação

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A vítima da vez da imprensa brasileira é o Diretor de Florestas licenciado do IBAMA, Antonio Carlos Hummel. Foi preso pela Polícia Federal na operação Curupira, junto com mais ou menos 80 outras pessoas, acusado, entre outras coisas, de corrupção, facilitação de desflorestamento e formação de quadrilha.
Sem nenhuma prova foi classificado como figura condenável perante a opinião pública, exposto no horário nobre portando um reluzente par de algemas, enfim, escorraçado.
E o que é pior: repita-se, sem absolutamente nenhuma prova ou evidência conclusiva. O resultado foi que, ato contínuo à sua prisão, Hummel começou a receber uma rede de solidariedade, a começar por seus colegas de carreira no IBAMA, onde atua há 23 anos, e depois da sociedade e da imprensa. A primeira manifestação importante na imprensa partiu de Helio Gaspari, no dia 22 passado. Será suficiente? Provavelmente não….
A prisão de Hummel reflete bem um problema moderno, no Brasil, sobre uma aliança perigosa e explosiva entre imprensa e ministério público. São duas instituições entre as mais bem avaliadas no país. São duas instituições cujas existência e força são vitais para a consolidação da nossa jovem democracia. São, portanto, duas instituições indispensáveis.
Entretanto, precisam de um ajuste de foco e de atitude. Na última terça-feira (28), durante um debate no programa Observatório da Imprensa, onde Hummel era o entrevistado de honra, foram apresentadas duas observações muito pertinentes sobre essa aliança.
A primeira do jurista Miguel Reale Júnior. Diz ele que o país necessita de mecanismos que possam impor limites ou responsabilizações cíveis a membros da polícia, justiça, ministério público e imprensa que cometam abusos e excessos como os cometidos contra Hummel. É polêmica pura, mas das boas.
A segunda foi do jornalista Muniz Sodré, doutor da Faculdade de Comunicação da UFRJ. Ele diz que a imprensa precisa rever seu conceito de notícia, principalmente redefinindo se notícia é o fato em si ou a construção da versão, por meio de signos e do fantástico.
Por exemplo, a polícia levar a imprensa a tiracolo para fazer prisões temporárias, preventivas, dando aqueles flagrantes espetaculares para sair nas manchetes e no horário nobre é notícia ou espetáculo, fato ou construção simbólica de uma história? De novo, polêmica das boas que não vai se esgotar nesse artigo.
Antonio Carlos Hummel é um sujeito de “sorte”. Tem uma reputação acima de qualquer suspeita, é pobre, honesto, competente, rigoroso e zeloso com seu trabalho, e está encontrando nesse fato uma alternativa para superar a crise devastadora que sua prisão provocou na sua imagem. Seguramente isso só não será suficiente para reverter a crise, tampouco apagá-la. Mas, certamente ajudará bastante a mitigar seus efeitos. Mas, e quem não tem uma reputação tão forte assim, mas que também é preso ou envolvido injustamente numa crise dessas? O que poderá fazer?

Kleber Lima é jornalista e Consultor de Comunicação da KGM – SOLUÇÕES [email protected]

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