quinta-feira, 28/março/2024
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Silval depõe sobre esquema de corrupção e confessa ter recebido R$ 250 mil mensalmente

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O ex-governador Silval Barbosa (PMDB) confessou em depoimento à juíza da Vara Criminal de Cuiabá, Selma Arruda, esta tarde, que recebeu propina do empresário e dono da Consignum, Willians Mischur, por meio do ex-secretário de Estado de Administração, César Zílio. Ele afirma que ficou acertada uma propina mensal de R$ 400 mil, dos quais R$ 200 mil a R$ 250 mil iam diretamente para suas mãos e que em aproximadamente 30 meses totalizariam R$ 7 milhões.

Com relação ao réu Pedro Elias Domingos, Silval Barbosa afirmou: "eu chamei o Pedro Elias para ter controle de todos os contratos da secretaria. O que acontecia, você passava os orçamentos para as secretarias, mas você não tinha o controle como são muitas secretarias e são muitas reclamações. Quando o Pedro Elias veio para secretaria, ele veio para controlar isso", explicou Silval a respeito do ex-secretário adjunto de Administração, negando que ele tenha sido nomeado já com propósito espúrio, diferentemente do então titular da pasta César Zílio.

Conforme o ex-governador, somente uma vez ele incumbiu Pedro Elias de fazer o recebimento de um montante de R$ 900 mil em propina de Willians Mischur. Segundo ele, o acordo era para Pedro Elias ficar com R$ 100 mil da quantia. No final, Willians pagou R$ 600 mil.

O ex-governador negou que tenha forçado qualquer secretário de participar do esquema e também negou que tenha havido coação aos empresários que pagaram propina. Segundo ele, todos participavam da corrupção "com o maior prazer" uma vez que só entravam no esquema "quando levavam vantagem". Eles faziam com a satisfação e prazer, até para ter como portfólio e modelo para levar pra outros estados, afirma o ex-governador.

O ex-governador afirmou que após o ex-deputado José Riva apresentar a empresa Zetrasoft, concorrente mineira da Consignum e que tinha interesse em assumir o serviço de crédito consignado aos servidores do Estado, o empresário Willians Mischur, dono da Consignum, passou a procura-lo com insistência. Ele tinha o interesse de renovar o contrato com a Administração Pública e dizendo que era muito importante pelo fato de já ter perdido contratos em outros estados.

O então governador teria explicado ao empresário que, por motivos institucionais, não queria se indispor com José Riva, que era o chefe do Legislativo, mas Willians argumentou dizendo que já havia conversado com o advogado Paulo Taques, que teria lhe assegurado que em breve estaria no governo e garantiria aquele contrato para a Consignum.

Silval conta que diante da insistência de Willians, mandou ele resolver a questão diretamente com José Riva. A mesma orientação teria sido dada a José Riva para que conversasse com Willians, pois "não queria mais ouvir falar da Consignum".

Quando questionado pela juíza sobre a participação do ex-prefeito de Várzea Grande, Wallace Guimarães, em esquemas de corrupção, Silval Barbosa respondeu que "aí, é outro processo que eu posso falar. Esse é mais um caso típico de campanha. O Wallace era um amigo deputado estadual, já conhecia ele de outras eleições, era do meu partido, o PMDB, na época. Ele chegou um dia no meu gabinete falando da campanha de 2012. Ele era deputado estadual e estava concorrendo à prefeitura de Várzea Grande". 

O ex-governador conta que Wallace o procurou seu gabinete dizendo que era importante ganhar a eleição em Várzea Grande pelo fato de ser um polo no Estado e que, para isso, precisava de ajuda financeira do governador. O então deputado teria contado a Silval que já havia conversado com o então secretário de Administração, César Zílio, a quem relatou que conhecia algumas gráficas que tinham interesse em firmar contratos com o Estado.

Wallace buscava a autorização de Silval para fazer com que as gráficas De Liz e EGP, de Anotnio Roni de Liz e Evandro Gustavo Pontes (também réus), para que do lucro desses contratos fosse retirado dinheiro para sua campanha à Prefeitura de Várzea Grande. 

Silval Barbosa conta que Wallace prometeu R$ 1 milhão em vantagem indevida para Cesar Zílio. Para que esse dinheiro fosse levantado, somente uma parte do material gráfico era de fato entregue para o governo, a outra parte que constava no contrato era simulada e os valores referentes eram passados diretamente para a estrutura da campanha municipal de 2012.

Silval confirma que conversou com César Zílio, que afirmou ser possível cadastrar as gráficas. "Eu sei que foi executado os serviços das gráficas. Eu confesso que não lembro se o César passou esses cheques ou se pagou direto algumas contas minhas. Eu sei que autorizei fazer e foi feito. Eu não conheço esse Antonio Roni de Liz, eu não tive nenhum contato, não sei quem é o Evandro Gustavo Pontes. Eu nunca estive com esses dois. Eu só conversei com o César Zílio e o Wallace, nesse assunto. Eu sei que o valor era de R$ 5 milhões, que seriam contratados nessas gráficas".

Neste esquema, ele afirma que soube por Wallace Guimarães que sua parte na propina foi de R$ 1 milhão, repassado a Cesar Zílio. Silval diz que não lembra, mas que César Zílio lhe falou que usou para pagar dívidas. “Pode até ser que eles tenham pagado alguma coisa".

Silval Barbosa confessou o que veio negando desde o início do processo. Segundo ele, houve sim encontros dele com o empresário Willians Mischur, dos quais participaram ou César Zílio ou Pedro Elias Domingos. Ele confessou que Pedro Elias levou Willians em seu apartamento para tratar sobre propina em uma noite. Também admitiu ter recebido o empresário em seu gabinete em um feriado. 

A respeito do gabinete, o ex-governador relatou que havia uma sala antes de chegar ao banheiro, onde só ele tinha acesso e onde costumava ser deixada a propina que ele recebia de César Zílio.

Quando a promotora Ana Bardusco questionou sobre a necessidade de que o contrato fraudado do Estado com as duas gráficas de Várzea Grande fosse aprovado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Condes), Silval afirmou que acredita que sim. Bardusco perguntou sobre a participação do ex-chefe de gabinete, Sílvio César Corrêa, no conselho.

“O Sílvio é uma pessoa que trabalhou comigo há bastante tempo, era piloto particular meu e na eleição de 2002, ele veio para cá e começou a trabalhar no gabinete. Ele continuou e eu chamei ele para atuar no gabinete do governo. A participação no Condes foi mais para dar espaço a ele”.

Silval relata que era sua atribuição de presidir o conselho, mas deixava isso a cargo do então chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, que após as deliberações, levava para ele para que fossem tomadas as decisões e encaminhamentos práticos relacionados a projetos que demandavam alto valor de investimento. "Ele trazia para mim as deliberações para gente ver o que iria fazer, quais iria implantar como programa ou ação pontual. O Silvio exigiu que queria participar do Condes porque estava isolado no gabinete. Era só uma busca de espaço. Depois, ele só trazia aqueles processos para mim, em vez do Pedro. Já vinha pronto, já tinha um oficio padrão, ele só assinava ao lado, mas já era uma coisa deliberada no Condes. Ele despachava com a minha determinação".

O ex-governador disse que só soube que seus ex-secretários de maior confiança mantinham relações financeiras entre si e que só soube por meio do processo, por exemplo, que um comprava gado do outro e que ambos estavam ligados à compra de um terreno de R$ 13 milhões na avenida Beira rio, em Cuiabá.

“O César nunca conversou comigo da compra desse terreno, da compra de gado, da relação que ele tinha com o José Costa Marques [arquiteto e delator da operação]. Não sabia que o César estava fazendo casa com dinheiro disso aí, eu não sabia que ele simulava transação até com o pai morto, eu fiquei sabendo desses detalhes ao ver as audiências. Eu não tinha conhecimento nenhum dessa compra do terreno na Beira Rio. Nem o Pedro Nadaf, nem o César Zílio mencionou um comprando gado do outro”.

A promotora Ana Bardusco questionou Silval Barbosa a respeito das supostas ameaças que teriam sido proferidas pelo ex-chefe de gabinete Sílvio Corrêa e pelo ex-adjunto de Administração, José de Jesus Nunes Cordeiro. “Eu nunca presenciei”.

Ele também negou que tenha tomado conhecimento da existência de ameaças por parte dessas pessoas a outros envolvidos nos esquemas de corrupção em seu governo, tanto secretários quanto empresários.

“A regra era: tomada decisão, deliberar direto com o secretário e o secretário que resolva isso. Quem ele põe, que resolva sozinho, se o secretário veio discutir com o Silvio ou com o Pedro Nadaf, eu não tenho conhecimento. O conhecimento que eu sei é que minhas tratativas eram direto com os secretários”.

A promotora também perguntou sobre a preocupação e os cuidados que eram tomados para esconder a corrupção. “Lógico que quando se faz um negócio desse, que tem um retorno com determinado empresário, essa cautela existe, você fica preocupado”.

Silval ainda destacou que a preocupação era maior nos momentos em que ele recebia dinheiro oriundo de propina, que ocorria sempre em espécie. “Tinha toda uma discrição, ele me entregava fora de hora, depois do expediente. Esse era o cuidado que se tomava”, detalhou em relação aos valores recebidos por meio de Cesar Zílio.

Questionado se tais valores passaram a agregar seu patrimônio, o ex-governador disse que "pode ser que alguma coisa sim”.

Mais informações em instantes

(Atualizada às 16h10)

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