sábado, 27/abril/2024
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O PT Barrigudo

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Numa foto publicada em O Globo de domingo, retratando a reunião de Dilma com o PT no auditório do Sindicato dos Bancários de São Paulo, chama a atenção aquilo que as camisas, os cintos e as calças não conseguem segurar: as barrigas dos petistas que estão no primeiro plano. A cintura da calça escorre umbigo abaixo, invadindo o plexo. Sete anos atrás, quando começou o governo Lula, um deputado federal petista das alterosas, conhecedor da alma humana, vaticinou que todos iriam ficar barrigudos. "Vão comer muito e beber muito." Ele acertou.

Que saudades daquele PT sem barriga, de que restam poucos exemplares, como Suplicy, Mercadante, Marina. Era um PT ideológico, impossível de misturar-se, numa aliança fisiológica, com o PMDB de Sarney, Renan e Jader. Eram tempos em que Lula sabia separar o joio do trigo e calculava, com quase perfeita exatidão, que havia no Congresso – Câmara e Senado – uns "trezentos picaretas". Naquela época, l993, era impossível imaginar que poderia fazer aliança com eles, os picaretas.

Semana passada, o Senador Pedro Simon alertou Lula de que no ano que vem, ano eleitoral, a foto da campanha pode ser a do quarteto Lula-Renan-Sarney-Collor. A propósito, lembrando a ameaça de Collor a Simon, de fazê-lo engolir as palavras e depois digeri-las, fico a imaginar o que disseram uns dos outros, anos atrás, Lula, Collor e Sarney e especulo como as digerem hoje. Consta que Lula, ao receber Collor logo depois das ameaças a Simon, teria elogiado a atitude do ex-presidente.

A ministra Dilma pode estar ajudando Sarney nos bastidores, mas no palco está calada, para não se desgastar. Lula, no entanto, já recebeu sinais de que seu prestígio se desgasta, por causa da companhia de Sarney, Renan e Collor. O desgaste atinge Dilma e o PT. A maioria dos senadores do PT está constrangida. Lula enfrenta um dilema sério. Está no eixo do desgaste do governo, do PT e da candidatura Dilma; das ambições do PMDB, da CPI da Petrobrás, da manutenção das alianças com o PMDB, da manutenção da maioria no Senado, da qual depende a aprovação de qualquer projeto do governo.

Sarney virou um divisor de águas: os que estão a seu lado e se igualam a ele; e os que o querem longe, como símbolo de um Brasil antiquado com o qual o Brasil moderno não pode mais conviver. Um Brasil novo que assiste, enojado mas sem ação, à prática do "uma mão lava a outra" – que pressupõe mãos sujas. Na primeira tentativa de CPI do governo Lula, a do Waldomiro Diniz, quem arquivou tudo foi o então presidente do Senado, José Sarney. Agora Lula, à distância, dá força para o arbítrio de arquivar tudo de José Sarney no Conselho de Ética. Renan defende Sarney num dia; no outro dia, lavaram dos anais o registro de "Coronel de merda", proferido por Renan em plenário, contra Jereissati. Mão sujas não se importam de lavar dejetos. O PT barrigudo fica quieto ou apóia. O PT ainda de cintura delgada não agüenta mais. Se engolir, engorda.

 

 

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