sexta-feira, 19/abril/2024
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Nada sei de Comitê Olímpico

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Fui um fiasco nas minhas previsões radiofônicas sobre o resultado da escolha da cidade olímpica. Saiu exatamente o inverso do que eu previra. Imaginei que em primeiro viesse Chicago, depois Tóquio, depois Madri e, por fim, Rio. Pensei que valesse a organização urbana da cidade que fosse se tornar palco do maior evento esportivo do planeta. Errei feio. Nada entendo de Comitê Olímpico. O comentarista esportivo Juca Kfoury afirma que o Rio vendeu uma ficção. Eu diria que o Rio se apresentou como certas mulheres nuas da Playboy – recauchutadas no photoshop do computador, sem rugas, sem varizes, sem celulite, sem manchas. Sem imperfeições.

Enfim, o Rio vai ter sete anos para converter a ficção em realidade. Dizem que Deus é brasileiro; eu diria que é carioca – ou, pelo menos, o Filho dele, braços abertos sobre a Guanabara, como versejou Jobim. Está dando a terceira oportunidade para o Rio. Em 1992 foi a ECO-Rio, a exposição mundial do meio ambiente; em 2007, foram os jogos pan-americanos; e agora sete bíblicos anos de tempo para se preparar para os jogos olímpicos. O Rio desperdiçou as duas primeiras. Saiu delas pior do que entrou. No Pan, ainda ficou devendo a prestação de contas de um orçamento de R$ 409 milhões que esticou para R$ 3,9 bilhões. Mantida a proporção, o orçamento olímpico de R$ 28,8 bilhões a R$ 274 bilhões! Muito mais do que o pico de nossa dívida externa. A oposição promete fiscalizar. Vai nada…

Marqueteiros do dinheiro público estão felizes. Recém gastamos R$ 100 milhões para promover a candidatura e já se compram páginas e páginas de jornais para pegar carona na vitória carioca. O presidente Lula festeja. Afinal, não é o governo dele que vai gastar. Aliás, alternam-se governos, mas o contribuinte, o pagador, é o mesmo. Pensei em Chicago ou Tóquio porque, mesmo com a crise, eles já resolveram a pobreza, a educação, a saúde e a segurança. Podem gastar com circo. Nós, ainda não. A UNESCO acaba de afirmar que se o Brasil der absoluta prioridade à educação, ainda precisamos de 20 anos para ter os professores de que necessitamos. Temos 50 mil homicídios por ano, quer dizer, 137 assassinatos por dia. Não há guerra, hoje, que nos supere. Quanto à saúde e à pobreza, basta olhar os hospitais públicos e levantar os olhos para as favelas.

Enfim, o Rio vai ter sete anos para realizar o sonho do prefeito Eduardo Paes. De o visitante de primeiro mundo não ser atropelado na faixa de pedestre, de não ter que desviar de carro estacionado na calçada, de não ser assaltado na Praia de Copacabana. O sonho de o visitante de primeiro mundo não se assustar com o barulho e o mau cheiro e se sentir em casa com a limpeza das ruas. Talvez não seja prefeito quando isso acontecer. A Olimpíada vai se realizar quando estiver começando a campanha eleitoral para escolher o sucessor de seu sucessor. O presidente e o governador serão também os sucessores dos sucessores de Lula e Sérgio Cabral. E nos estádios, o Brasil já sai classificado em todas as modalidades, por ser o anfitrião. Gastando tanto ouro dos bolsos, pelo menos se espera que nossos atletas – a maioria pré-adolescente de hoje – tenham condições de preparo para levar muito ouro das medalhas, como se exige do dono da casa.

 

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