sexta-feira, 29/março/2024
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Futebol x política

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Domingo pela manhã, no Rio, um numeroso grupo com a camisa do Flamengo, me cercou no café da manhã do hotel, querendo uma fotografia. Aproveitei para fazer a eles um desafio: “E se vocês canalizassem essa torcida do futebol para a política, será que haveria corruptos?” Eles se dividiram. Alguns concordaram que futebol é o circo que os faz permitirem a corrupção na política; outros disseram que só encontram alegrias no futebol, já que a política é uma geradora de tristezas.

            Fico imaginando as multidões do futebol a gritar para políticos corruptos o que gritam para o juiz nos estádios: “Fora ladrão!”, “Tá roubando!”. Como eleitores, não fazemos o que fazemos como torcedores. Como eleitores, chegamos a trazer de volta pelo voto políticos que já foram expulsos do campo por jogo desonesto. Imagino se torcêssemos pelo Brasil-país como torcemos pelo Brasil-seleção de futebol. Será que a culpa não é nossa, por não vestirmos a camisa desse time Brasil, por nos omitirmos, por não acompanharmos sequer a transmissão das partidas do campeonato brasileiro não futebolístico?

            Será que o Flamengo vai evitar que pacientes da rede pública morram em filas intermináveis, sejam postos no chão dos corredores dos hospitais? Será que o Flamengo vai reformar as escolas públicas que estão caindo, vai melhorar os salários dos professores? Será que o Mengão é capaz de conter o crime, os assaltos, as balas perdidas? De tapar os buracos do asfalto, proteger a natureza, melhorar nossos portos, baixar os impostos, prender os corruptos?
            Na capital do país, reina a corrupção. Mentes venais e podres espalharam sua nojeira por toda a parte. Governo, legislativo, partidos políticos, empresários, funcionários, jornalistas. O Distrito Federal tem cerca de dois milhões e meio de habitantes. Só 40 deles estão a ocupar o legislativo local, numa expressão de sua justa ira, porque perceberam que a maioria dos deputados está premiada com panetone. E pelo Legislativo não vai dar em nada, embora a evidência das imagens e sons gravados.

            Quando cara-pintadas saíram para as ruas, há 17 anos, conseguiram tirar um presidente de milhões de votos ainda frescos, sem que nenhum dos manifestantes tivesse quebrado uma vitrina. Hoje os jovens se engalfinham e se matam pelo futebol. Que decadência! A indiferença por nossos próprios destinos naconais é que nos leva a esse cambalacho que vemos em Brasília e no Brasil, em que poucos estão acima de qualquer suspeita. Imaginem os corruptos não podendo sair às ruas, freqüentar os restaurantes, com medo de levar uma surra dos torcedores da política… Reescrevendo o Barão de Itararé, parece que “eles” tratam de se locupletar antes que o povo perceba e restaure a moralidade. Com as mentes e energia voltadas para o futebol, vai demorar a restauração e “eles” e outros ainda vão levar muito do dinheiro suado dos impostos pesados.

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