sexta-feira, 19/abril/2024
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Façam suas apostas

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Nesses últimos dias, em Salvador, foi fechado um cassino no Bairro da Graça, de classe média alta. A polícia apreendeu 32 máquinas caça-níqueis e prendeu sete pessoas. Em Volta Redonda, RJ, um dia antes, a Polícia Federal apreendeu 200 máquinas de vídeo-bingo e prendeu vinte pessoas, que vão ser denunciadas por exploração de jogos de azar. A lei proíbe jogo de azar e define jogo de azar como aquele que depende da sorte. Assim, o jogo de futebol não é um jogo de azar, porque depende majoritariamente da perícia dos jogadores. Já a mega-sena depende da sorte. É jogo de azar, portanto, e deveria ser proibido e aqueles que a exploram deveriam ser presos e processados. Isso se todos fossem iguais perante a lei. Mas não acontece porque um decreto do governo militar autoriza uma autarquia federal a explorar loterias.

Quer dizer, esse princípio de que a lei é igual para todos é uma balela. Uns são presos enquanto outros, dentro do governo, exploram o jogo. O jogo de azar foi proibido por questões éticas. Vicia e afeta o dinheiro de ricos e pobres. Para quem tem dinheiro sobrando, até que não é tão escandaloso. Em Punta del Leste, onde em geral tenho fugido do carnaval, vejo no cassino – onde entro por curiosidade, pois detesto jogo – grandes empresários brasileiros, inclusive do bicho, a jogar dinheiro fora.  Mas no Brasil, nas filas das loterias, constato com tristeza que são os pobres que estão a jogar dinheiro fora. O dinheiro do leite e do pão das crianças, muitas vezes. Segundo o matemático Oswald de Souza, é maior a chance de cair um raio na cabeça do apostador do que ganhar na mega-sena. A chance é de 1 para 50 milhões. Quer dizer, vai perder sempre. Se não jogasse, ganharia a cada semana o dinheiro que não jogou.

O governo militar inventou as loterias populares – como a esportiva – planejando com isso tirar o público do jogo do bicho e acabar com os bicheiros. Hoje os bicheiros convivem muito bem com a loteria oficial. E as loterias populares acabaram sendo ampliadas, como grande fonte de renda do governo. Na prática, se trata de um imposto arrecadado dos mais pobres, aos milhões.

O pior de tudo é que a pessoa, movida pela esperança, transfere a aposta que deveria fazer em si mesmo, para o papelzinho da loteria. Raciocina que só ficará rico se ganhar na mega-sena, e faz a fezinha todas as semanas. Nem lembra que se apostar em si mesmo, no seu aperfeiçoamento profissional, vai ser descoberto pela tremenda busca no mercado de pessoas bem preparadas. Na verdade, apostar em si mesmo, é tirar a sorte grande. Mas o apelo do jogo é grande. Os meios de informação nada cobram para divulgar os resultados das loterias, que viram notícia quando alguém ganha, e a notícia funciona como propaganda do jogo.

Existe uma aposta em que se ganha sempre. A aposta em educação, em formação profissional, em aperfeiçoamento. Quem percebeu isso já é felizardo. É um ilustre ganhador. Pena que os perdedores sejam milhões.

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