quarta-feira, 24/abril/2024
PUBLICIDADE

A copa e as cabeças

PUBLICIDADE

O Brasil vai atrair torcedores de futebol do mundo inteiro, dentro de cinco anos. Vai sediar a Copa do Mundo em 12 cidades: Brasília, Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Cuiabá, Salvador, Recife, Fortaleza e Manaus. Estariam essas cidades preparadas para receber europeus sem aquele ranço que acha tudo divertido porque é um país exótico, onde nada funciona direito? Os brasileiros que foram à Copa da Alemanha voltaram surpresos e maravilhados. Descobriram que caixas eletrônicos podem ficar na calçada, funcionar a noite toda, e pagar qualquer valor. Um amigo me contou que ficara incrédulo quando viu, da janela do hotel, às três horas da madrugada, um adolescente de mochila, a esperar o sinal abrir para pedestre numa avenida deserta.

 Os que foram à Alemanha e forem ano que vem à África do Sul vão sentir a diferença. O país sede de 2010 é o Canadá da África; é bem mais organizado que o Brasil. A Cidade do Cabo, Joanesburgo, Pretória e Porto Elisabeth são cidades que funcionam. Pelo menos eram assim nas duas vezes em que andei um bom tempo por lá. A Justiça, lá, é eficaz e rápida. Hoje, aqui no Brasil, talvez encontrem semelhança em Brasília, Curitiba e Porto Alegre. As outras que me perdoem, mas são um caos. Trânsito desorganizado, sujeira, barulho e assaltos são as características dessas cidades. O Rio, quando sediou a Eco-92, que cobri, conseguiu uma certa segurança, por medidas emergenciais, mas depois a segurança desabou. Assaltos e assassinatos de turistas, nas nossas cidades praianas, fazem com que recebamos por ano menos visitantes que a Torre Eiffel. 

Mas não é só insegurança. A mobilidade é precária. Não temos trens e nossos aeroportos já estão sobrecarregados. A sinalização das cidades é um pesadelo para o estrangeiro que alugar carro. O próprio carro é antiquado. É uma dificuldade encontrar para alugar carro com câmbio automático, que foi novidade em 1952. Europeus, asiáticos, americanos do norte estão acostumados com cidades absolutamente limpas. Se chegarem hoje, vão achar que nossas metrópoles foram abandonadas. O barulho das nossas cidades também vai assustá-los. Imaginem um estrangeiro ao volante, esperando o sinal abrir e ser abordado por vendedores e pedintes…

Queiramos ou não, o inglês virou língua universal. Fala-se inglês nos táxis, nos ônibus, nos restaurantes, nos hotéis brasileiros?  E nos estádios, como vai ser? Vão jogar saquinho de urina? Vai haver rixa antes de depois dos jogos? Como se vê, há muito que fazer. A esperança é que o futebol, esse esporte universal, nos obrigue a fazer, para receber estrangeiros, aquilo que deveríamos ter feito há muito tempo para nós mesmos. Aí, receberemos melhor os que vêm de fora e os que chegarem da barriga das mães brasileiras. Faltam só cinco anos. As obras nos estádios são a parte mais fácil. O mais difícil serão as obras de reformar cabeças.

COMPARTILHE:

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias
Relacionadas

Donos da verdade

Nesse 23 de abril completou 10 anos de vigência...

O Estrangeiro

Já que Rodrigo Pacheco não se anima, Elon Musk...

Democracia e alienação

O Datafolha perguntou a pouco mais de 2 mil...

Fim de campanha

  Durou seis anos. Foi um longo tempo. Mais...
PUBLICIDADE